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domingo, 15 de novembro de 2009


DEUS EM NIETZSCHE
Nietzsche nasceu na Prússia em 1844. Aos 4 anos, seu pai, um pastor luterano, morreu louco. Passou a infância com a mãe, a avó e duas tias. Em 1858, entrou no colégio interno e, apesar da saúde frágil, prosseguiu os estudos, dedicando-se à teologia e à filologia clássica, sendo influenciado por Kant, Schopenhauer e pelo compositor Richard Wagner. Distinguiu-se tanto em seus estudos que foi indicado aos 24 anos para a cadeira de Filologia, em Basel.

Principais trabalhos
Em seu Nascimento da Tragédia, Nietzsche desafia o ponto de vista de Schopenhauer de que a resposta apolínica aos excessos dionisíacos é antes apática que propriamente heróica. (Dionísio, o deus grego do vinho, é associado na cultura grega à libertinagem.) Sua obra Gay Science, de 1883, explora o tema do auto-domínio, a relação entre a razão e o poder, e a revelação de que é a busca inconsciente do poder que gera a verdadeira energia para a aparente abnegação dos ascéticos e dos mártires.

O Legado de Nietzsche
Em 1889, Nietzsche, incapaz de suportar a visão de um cavalo sendo açoitado, sofreu um colapso mental. Ficou clinicamente perturbado pelo resto de seus dias, morrendo aos 44 anos. Nietzsche é insuperável em seu discernimento e sua crítica poderosa do ambiente moral no século XIX. Ele enfatiza o "desejo de poder" que é a base da natureza humana, o "ressentimento" que nasce quando é negada essa base na ação, e a corrupção da natureza humana encorajada por religiões como o cristianismo, que se alimentam do ressentimento. Ele introduziu também o conceito do Ubermensch (o Sobre Humano) ou Super homem - aquele que tem o domínio sobre suas paixões, superou a agitação sem rumo da vida comum e deu ao seu próprio caráter um estilo criativo e individual.

Deus está morto!
Já ouviu falar da que louco que acendeu uma lanterna numa clara manhã, correu para a praça do mercado e pôs-se a gritar incessantemente: "Eu procuro Deus! Eu Procuro Deus!" Como muitos dos que não acreditam em Deus estivessem justamente por ali naquele instante, ele provocou muita risadas... "Onde está Deus", ele gritava. "Eu devo dizer-lhes. Nós o matamos -- vocês e eu. Todos somos assassinos... Deus está morto. Deus continua morto. E nós o matamos..."
Shakespeare não disse "Ser ou não ser". Ele escreveu isso, mas foi Hamlet quem o disse. Friedrich Nietzsche também não disse "Deus está morto"; um "louco" o disse. Embora seja verdade que o próprio Nietzsche tenha ficado louco aos 45 anos, existe, entretanto uma diferença entre a vida e a literatura, mesmo quando a última é chamada de filosofia. Então, o que o louco queria dizer? Não que existem "incrédulos" no mundo, pois isso sempre foi verdade; nem simplesmente que Deus não existe. Pois se "Deus está morto", então Ele deve ter vivido algum dia; mas isso é paradoxal, pois se Deus viveu alguma vez, Ele, sendo eterno, não poderia nunca morrer.
Assim sendo, o louco fala, não do Deus de quem tem fé, o qual sempre foi e sempre será, mas sim daquilo que Deus representou e significou para sua cultura. Esse Deus era uma crença coletiva em Deus, e era essa crença que estava morrendo, na Europa do século dezenove. Ali onde Deus antigamente estava -- no centro do conhecimento e do pensamento, existe agora um vazio. Tanto a ciência como a filosofia passaram a tratar Deus como irrelevante e, mais uma vez, o homem se tornou a medida de todas as coisas.
Nós, ocidentais, ao nos voltarmos cada vez mais para o natural, deixando de lado o sobrenatural, "matamos" o Deus de nossos ancestrais. Os incrédulos da estória de Nietzsche acham muito engraçado se procurar Deus; só o louco constata a terrível gravidade da morte de Deus. Não que ele a lamente; na verdade, ele a chama de "grande façanha", mas uma façanha provavelmente grande demais para nós, os assassinos, suportarmos. "Não deveríamos nós mesmos tornarmo-nos deuses simplesmente para parecermos dignos dela?".

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